Ato I
Olhaste e sorriste
Sorriso frágil de dias rachados
Enlaçastes as mãos nas minhas
Geladas
Pousaste tu'alma nos meus braços fragéis
E repousei dias em teus leitos de cetim
Adornados por mim
Riste melodias cantadas
E andaste
Mais perto
Ato II
Olhaste e enxugaste
Com dedos trêmulos lágrimas de marfim
Sob mim
Sentia o pulsar a drenar-lhe os sentidos
De cicatrizes à mostra
E manchas enegrecidas na ponta do contar
Soprou sobre nós
A fumaça efêmera d'um cigarro amarrotado
D'olhos num vinho barato
Redemoinho de silêncio
Lacrimejaste ante a brisa
E não viste que meus lábios sangravam
Vermelho rubi
Por lábios teus a acalentar
E andaste
Ao mesmo lugar
Ato III
Olhaste e desviaste
Teus dias dos meus
Buscando n'outro corpo qualquer resquício
De fumaça, sorrisos
Indecência, álcool
Psicotrópicos, calmantes
A descansar sonhos abstratos
Conhece-me
Não'assinaste contratos
Cometeste pecados
Contaste dos olhos que compraste
Tão azuis quanto o céu
Tão tristes quanto os meus
E amei-os
E incendiei-os
Cobrindo-lhe o rosto com ondas avermelhadas
E olhares escuros
E andaste
Mais longe
Até perder-me de vista
Não olhaste.
Sorriste?