Friday, 24 September 2010

E realmente eu vejo que é tarde demais, quando eu olho nos seus olhos; quando eu vejo o tempo que se passou e as chamas que se apagaram e se acenderam em suas orbes. E deveria mesmo ser tarde demais não é? O tempo deveria ter apagado tudo e curado todas as feridas, mas foi só olhar para você - olhar para você de verdade: ver a sua alma, os seus pensamentos, as suas lágrimas soltas e as reprimidas, os seus sorrisos reais, o seu eu de verdade - que eu senti tudo no meu peito arder, chamuscar, queimar; foi como se eu tivesse jogado alcool em feridas recém feitas por uma gilete. E aquela dor bastava para que eu visse que ainda não era tarde demais; que só seria tarde demais quando eu não lembrasse mais os traços das suas feições, não soubesse mais onde você mora ou como gosta de deixar o quarto arrumado, se esta ou não casado, quantos filhos já tem; se você ainda estava vivo.
Porque enquanto eu souber que você chora ouvindo músicas, enquanto você se pegar olhando para fora da janela quando chove esperando ver um pontinho minúsculo de cabelos manchados e olhos marejados, enquanto você sentir frio com abraços antigos e estranhos, enquanto você sentir alguma coisa dentro do seu peito ardendo, chamuscando, queimando eu poderei saber que nada foi em vão. E que não é tarde demais

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