Friday 24 September 2010

E realmente eu vejo que é tarde demais, quando eu olho nos seus olhos; quando eu vejo o tempo que se passou e as chamas que se apagaram e se acenderam em suas orbes. E deveria mesmo ser tarde demais não é? O tempo deveria ter apagado tudo e curado todas as feridas, mas foi só olhar para você - olhar para você de verdade: ver a sua alma, os seus pensamentos, as suas lágrimas soltas e as reprimidas, os seus sorrisos reais, o seu eu de verdade - que eu senti tudo no meu peito arder, chamuscar, queimar; foi como se eu tivesse jogado alcool em feridas recém feitas por uma gilete. E aquela dor bastava para que eu visse que ainda não era tarde demais; que só seria tarde demais quando eu não lembrasse mais os traços das suas feições, não soubesse mais onde você mora ou como gosta de deixar o quarto arrumado, se esta ou não casado, quantos filhos já tem; se você ainda estava vivo.
Porque enquanto eu souber que você chora ouvindo músicas, enquanto você se pegar olhando para fora da janela quando chove esperando ver um pontinho minúsculo de cabelos manchados e olhos marejados, enquanto você sentir frio com abraços antigos e estranhos, enquanto você sentir alguma coisa dentro do seu peito ardendo, chamuscando, queimando eu poderei saber que nada foi em vão. E que não é tarde demais

Sunday 19 September 2010

Champagne and Cigarettes

Quereria ter morrido de um jeito heróico: quem sabe erradicando um mau aterrador ou lutando por um bem maior. Quereria ter morrido sendo reconhecida como alguém que mudou o mundo, fez a diferença na vida e modificou a alma de diversas pessoas. Quereria que meu leito de morte fosse banhado por lágrimas de verdadeiro desespero. Quereria que o mundo parasse, nem que por um mísero segundo e alguém do outro lado do globo azul pensasse em como eu faria falta. Quereria que meus sonhos de criança tivessem se realizado e eu tivesse revolucionado as mentes limitadas de todos que estavam ao meu redor e ter ido além de fronteiras que separam países e continentes, fazendo todos unirem-se em torno de uma opinião minha. Quereria ter sido alguém mais do que fui, ter feito mais do que fiz, ter vivido mais por algo do que pelo que vivi. Quereria não ter perdido tudo de vista em um horizonte distante demais para ser alcançado e ter deixado a vida tornar-se fútil e imprestável. Um desperdício de espaço. Quereria ter sido alguém significativo e não só algo a mais. E não fui.
Fui só mais uma folha que caiu; uma folha seca, gasta, que já deu tudo que poderia dar e fez tanto quanto lhe fora incubido. Só mais uma folha que um dia será tragada pela superfície e transformar-se-á em mais uma parte do solo em que você pisa, da base em que você se sustenta.

P.S.: É tarde demais. Desculpe.