Wednesday 19 March 2014

Minhas lágrimas são
Mais quentes que tuas mãos
Que sobem, ásperas, por minhas coxas
Que teus dedos
Que me invadem
E eu não apresento resistência
E não te penso
E em teu suor perco meus pensamentos
E cravo meus dentes
Tua barba rala me arranha o pescoço
Teus dentes leves me machucam os seios
E não te nego
Não te afasto
Porque não te tenho
E não me tens
E somos apenas dois corpos dividindo o mesmo colchão
E mãos e pés e bocas perdidas um sob os outros
No ar rarefeito
E não digo teu nome
E não dizes o meu
Reinamos em silêncio
Olhos nos olhos
Minhas unhas cravadas na tua pele
E esquecemos que um dia
Esqueceremos de lembrar
Das feições que tanto nos pedem
Afeto
E repetidamente
Negamos-lhe

Friday 10 January 2014

Perguntara-se, olhos vermelhos a frente d'um espelho rachado
Quando
quando perdera a contagem dos dias
E a coragem
Quando deixara-se ludibriar por si mesma
louvando sonhos de papel
Acreditara que poderia alcançar dez mil pés
e repousar sorrindo
Negara tão fortemente a mídia e sua influência
Mas afogara-se nesta

Poemas
Poesias
Textos abortados
Melancolias
Dinheiro-de-chiclete
Esperanças-de-porvir
Olhos-de-rubi
Cabelos-d'esmeralda
Pés descalços
Alma rala
Cantorias tristes ao pé-da-cama
E cospe sobre si
E em ti
E tem em mãos a perfeição
e a desistência
E sorri
Em meio a lágrimas e fumaça e borrões
Sem talento, sem teto, sem dinheiro
Sem amor
Sem calor
Treme na calada da noite
Implora a ti por qualquer promessa vã , efêmera e teatral
E
Cansaço-de-cada-dia-nos-dai-hoje
E a cachaça amarga a lhe corroer os tons
E a nicotina enegrecendo-lhe os lábios
Rachados
Desbotados
E eras bela
E sois
E estas perdida-doída-corroída

Vomita blasfêmias
Chora rios de insultos e
Lhe beija os dedos
Acaricia-lhe o rosto, corre os dedos pelo cabelo cor-de-mel
Corta-lhe os pulsos
Rasga-lhe o peito
Chora, chora, grita, esperneia, descabela-se, pede perdão, volta, senta ao pé da mesa, apoia as coxas nas tuas, quebra-lhe a alma, lhe sorri torto de canto
Dá meia-volta
Uma pirueta
E sai pela porta
Sem olhar em teus olhos,
para não ter medo de voltar
Para não acreditar
Que ainda lhe sobra um'alma no peito frio

Thursday 2 January 2014

Dizeste
Três vidas atrás
Que meus dedos haveriam de ficar
Calejados e amarelados
De tantos cigarros que acendo
E ofereço ao vento
E magoo a meus pulmões

Dizeste
De olhos fechados
Que meu guarda roupa haveria de me lembrar
O que eu fizera na noite passada
Onde
Com quem
Estivera
Em tua ausência

Dizeste
As mãos quentes repousando
Em minha coxa fria
Que haveria de ter dores de cabeça
E curá-las-ia com mais veneno
em garrafas transparentes de selos a desbotar
a porcentagem de conforto
A 39%

E sentaste ao meu lado
No meio fio descascado d'uma avenida antiga
Sorriste,
triste,
Me emprestaste teu isqueiro
E teus ouvidos

E andaste em direção a porta
Sem contar-me teu nome
Deixando à mim teus dias e
teus cansaços
Teu acaso
Meu casaco
Pendurado
Sozinho na parede
Tem teu cheiro e
me conta estórias
A cada vez que fecho as janelas
E me deixo respirar minha própria fumaça
Afundando meus pulmões
em dias escassos e
Solitários

Mas eu 'inda fumo demais
Seja pra manter as mãos ocupadas
Ou tampar as lágrimas com a fumaça escassa
Que sai dos meus lábios rachados
Cheios de palavras cansadas
E vazios de sentimento
Sentindo
Falta