Monday 29 November 2010

A sola dos pés tocou delicadamente o chão de madeira escura e impulsionou-se para cima, andando em direção ao espelho sujo no meio do quarto escuro. Havia poeira na superfície liso do vidro - só mais uma mostra de que o tempo havia passado. Tirou o pó com a palma da mão e encarou-se, deixando-se afogar no azul dos olhos.
Não tinha percebido como seu cabelo estava opaco, sua pele translucida, seus olhos mortos. Ela estava vazia, oca. Quase podia ouvir o eco quando seu coração batia. Não lembrava-se de quando tinha-se deixado morrer. Em que espelho deixara perdida sua alma.

Sunday 7 November 2010

Você cansa. Cansa das sensações, das lágrimas, das tentativas, do rabo entre as pernas, das mentiras, das saudades, do orgulho, do olhar de esguelha disfarçado, das patadas. Cansa de tentar aceitar tudo, de soluços secos, da indiferença. Cansa de estar cansado. Todo dia. Há tanto tempo. Cansa de desistir. Desistir e desistir repetidas vezes e voltar atrás todo maldito dia. Cansa de engolir as lágrimas, de acenar em concordância, da espera, da esperança, do relógio insistente, dos traços em conversas vazias, do silêncio, da falsa felicidade. Da falsa desistência.

E isso nunca pára. O relógio tique-taqueia e o tempo passa. E o “eu desisto. Adeus” fica pra amanhã.